#15 Os Olhos Amarelos dos Crocodilos,

Katherine Pancol

Os Olhos Amarelos dos Crocodilos, de Katherine Pancol 

Não é um romance que deslumbra. É um romance que inquieta. Há gritos contidos em cada personagem e, por baixo da narrativa aparentemente leve, são retratados temas que nos toldam. As aparências, os papéis que herdamos, o sucesso medido por olhos alheios.

A verdade é que neste livro ninguém é propriamente admirável. E a certa altura, percebemos que a autora não nos tenta contar uma história, mas fazer-nos a pergunta: quantas vezes já deixaste que o teu valor fosse validado por outra voz?

Porque é disso que se trata. Não de crocodilos nem de intrigas familiares, mas das consequências por não sabermos ocupar o nosso lugar. Por confundirmos invisibilidade com humildade. Silêncio com elegância. É um livro sobre o desconforto de quem tem medo de brilhar. E o perigo de quem brilha com luz alheia.

Não é um romance perfeito. Tem excessos. Personagens que por vezes roçam a caricatura. Mas funciona. Porque a vida real também é assim. Desequilibrada, incoerente, um bocadinho ridícula nas suas tragédias diárias. E Katherine Pancol , com um estilo entre o irónico e o pungente, acerta ao não suavizar nada.

A autora diverte-se a esticar a narrativa até ao limite. Mas esse excesso é parte do estilo de Katherine Pancol. Dramatiza para revelar. Faz caricaturas para que vejamos melhor. É preciso que as personagens gritem para as escutarmos bem.

E depois há Paris. Não a cidade - postal, mas uma Paris de interior, de telefonemas, de mentiras educadas, de refeições em família onde ninguém está verdadeiramente presente. A cidade é cenário e metáfora.

É um livro sobre escrever e sobreviver. Sobre como as mulheres, sobretudo aquelas que nunca se consideraram especiais, encontram dentro de si um lugar que não precisa de aplausos. Um livro sobre a arte de assumir quem se é, mesmo quando isso não cabe na moldura dourada que os outros penduraram para nós.

Este é um excelente exemplo de como contar histórias pode ser um acto de insubordinação emocional. Katherine Pancol entretem. De forma brilhante.

SINOPSE

Este é um romance sobre uma mentira, mas também sobre a amizade e o amor, o dinheiro e a traição, o medo e a ambição.
A acção desenrola-se em Paris. Duas irmãs. Iris é uma mulher muito bonita, rica, elegante e sofisticada, mas vive desencantada com a vida e com o seu casamento. Joséphine é uma intelectual, historiadora, muito menos bonita do que a irmã e com uma vida bem mais difícil. Casada, tem duas filhas, vive nos subúrbios e trabalha para pagar as contas.
Certo dia, num jantar, Iris faz-se passar por escritora. Presa na sua mentira, convence a irmã a escrever o livro que ela própria assinará. Abandonada pelo marido, cheia de dívidas, Joséphine submete-se, como sempre, aos caprichos da irmã. Mas esta é uma decisão que vai mudar o destino destas duas mulheres.
A escritora francesa Katherine Pancol traça com mestria um retrato real e vivo de mulheres que tentam triunfar na carreira profissional, na vida familiar e alcançar o reconhecimento social. Mas que, por baixo desta aparente vida de sucesso, escondem uma profunda infelicidade, falta de confiança e frustração.
Os Olhos Amarelos dos Crocodilos é uma verdadeira lição de vida. Este romance, um verdadeiro best-seller em Espanha e França, dá-nos a conhecer as mulheres que somos, as que queremos ser, as que nunca seremos e as que talvez sejamos um dia. Mulheres à procura de um caminho na vida, em busca de si próprias e à descoberta de novos amores.